Wednesday, June 18, 2008

O pesadelo da inflação
Projeções atingem 6,21%. Lula pede ação contra alta de preços e vê país rumo ao "paraíso"
Ronaldo D`Ercole, Patrícia Duarte e Luiza Damé
No mesmo dia em que estimativas de mercado acerca do cumprimento da meta de inflação anual atingiram 6,21% - taxa bem próxima do teto da meta, de 6,5% -, o presidente Lula voltou a dizer ontem que o combate à alta de preços deve ser um compromisso de toda a sociedade, não só do governo. Segundo Lula, para quem o país vive hoje perto do "paraíso", está claro que uma escalada da inflação significaria um retrocesso inconcebível. Por isso, evitar que aumentos temporários de preços, como os atuais, provocados por choques externos, transformem-se em elevação permanente da inflação é prioridade. As afirmações foram feitas na BM&F Bovespa, onde o presidente foi homenageado pelo grau de investimento obtido pelo país. Para Lula, o Brasil vive um "sonho", combinando estabilidade e crescimento: - Temos de ter o compromisso de não permitir que a inflação volte a atrapalhar o sonho de estabilidade que o país tem hoje. Segundo ele, a situação coloca o Brasil próximo do paraíso: - Os mais jovens, possivelmente, não dão importância. Mas para nós, que já vivemos no Brasil com crescimento zero e inflação a 80% ao mês, viver este momento que estamos vivendo é quase chegar perto do paraíso. Mais um pouco e estaremos lá. Lula lembrou que o governo vem adotando medidas (como a alta do IOF e do superávit) para evitar descontrole inflacionário. E que esse esforço não deve comprometer o crescimento. Dirigindo-se ao amigo sindicalista Antônio Carlos dos Reis, o Salim, da CGT, arriscou uma previsão: - Meu caro Salim, trabalho com a hipótese de que a gente tenha, pelo menos, dez anos de crescimento sustentável, para que a gente possa recuperar todos os males que 20 anos de não crescimento causaram ao país. O ministro da Fazendo, Guido Mantega, fez coro: - Vamos controlar a inflação, e o crescimento vai continuar, a despeito dos problemas que atribulam a economia mundial e a brasileira. No programa de rádio "Café com o presidente", Lula também destacou a inflação. Ele disse que a alta de 5,8% do PIB trimestral é um sinal de que a economia brasileira "está no caminho certo", mas afirmou que a produção tem de acompanhar a demanda. - É importante que o ritmo da economia acompanhe com muita clareza a demanda, porque se a gente continuar consumindo mais do que produz, o resultado é que a gente terá uma inflação. A preocupação também se expressa na pesquisa semanal Focus do BC, com cerca de 80 instituições financeiras. Pelo levantamento, divulgado ontem, as estimativas do IPCA para 2008 saltaram de 5,60% para 6,21%, quando se olha a mediana Top-5 - com os cinco bancos que mais acertam previsões. Na mediana agregada, as projeções passaram de 5,55% para 5,80%. O IPCA de maio, divulgado semana passada, ficou em 0,79%, o maior em 12 anos. As conseqüências devem ser juros mais altos: segundo o Focus, a Selic ficará em 14,25% (hoje está em 12,25%). Luciano Coutinho, presidente do BNDES, sugeriu que a "calibragem" no ritmo de expansão do crédito é opção para controlar a inflação. Ele disse que, se o país "precisar calibrar um pouco a taxa de crescimento", o governo também poderia "calibrar as condições do crédito". COLABOROU Aguinaldo Novo

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